Chego algumas horas antecipadas para fazer uma aula antes do grande momento. Sempre espero um ano inteiro para aquele dia. Coreografias, figurino, maquiagem, coque, camarim e a incrível sensação de passar um dia - ou melhor três dias - inteirinho no lugar mais mágico que existe: o Teatro. Um local onde tu esquece do mundo horrível lá de fora e se concentra naquilo que mais ama. Tudo ali é inspirador, o clima frio, o cheiro de pés, gente e carpete, tudo misturado, que contribui para que todas as lembranças tenho um gostinho ainda mais especial. Único lugar da cidade que posso andar de tchutchu, sapatilha de ponta, coroa de princesa e um casaco por cima de tudo e ainda tirando foto sem ninguém me chamar de louca. Único lugar que já descobrir passagens secretas e comi escondida um milhão de baboseiras. Bom, começa a aula. Com ela aquele suor prazeroso que me mostra o quão estou viva e movimentos que me faz ganhar ainda mais vida. Depois da aula uma rápida passagem no palco e tenho uma das visões mais lindas do teatro: cadeiras vermelhas vazias com os detalhes em dourado que me levam para bem longe e ocupo mentalmente cada lugar com alguém especial e observando tudo aquilo está o grandioso e imponente lustre, acredito que a maior obra de arte daquele lugar. Pronto, está montado o espaço que me faz sentir toda aquela dança entrando pelos poros. Após a passar a coreografia inicia aquela dor habitual no dedo do pé, mas o nervosismo para voltar ali e mostrar para todos aquilo que trabalhei com tanto afinco me faz esquecer todas as dores. Volto para o camarim e começo um ritual delicioso, fazer aquela maquiagem que ressalta a beleza do rosto de qualquer mulher. Depois de todas nós prontas voltamos para o palco e ficamos ouvindo o burburinho das pessoas chegando, acabo ficando ainda mais ansiosa. Toca os três sinais para começar os espetáculo e todas corrrem para os bastidores para ficar olhando encolhidas e silenciosamente o início daquele mundo mágico. Mãos suando frio, cabeça pensando em tudo aquilo que tenho que fazer e ao meu lado, tão nervosa quanto eu, aquela que me acompanhava em tudo e ali nós nos dávamos força e coragem. Entramos no palco. Primeiro sinto a força das pernas enrijecidas pelo frio darem sinal de vida, depois sinto a luz do holofote grandioso banhando meu corpo com sua luz quente. Esta luz com certeza me incomodaria, mas a sensação de dançar e usar todos os cantinhos do meu corpo faz com que o holofote me reconforte e, depois de focar meu olhar, enxergar toda aquela pláteia com todas as atenções para o incrível palco traz uma felicidade indescritível para mim. Aplausos. Pisquei e acabou. Agora é só sair com aquele enorme sorriso para receber aqueles que acreditaram em mim. E abraçar a minha maior companheira.
Acredito que voltarei ao palco do TAA no final de abril, depois de um ano sem subir lá, e a vontade de dançar se mistura com a sensação de vazio, por ela não dançar ao meu lado. Nem ensaiar comigo, nem ficar nervosa comigo, nem chorar comigo!
Acredito que voltarei ao palco do TAA no final de abril, depois de um ano sem subir lá, e a vontade de dançar se mistura com a sensação de vazio, por ela não dançar ao meu lado. Nem ensaiar comigo, nem ficar nervosa comigo, nem chorar comigo!
Pensarei em você quando estiver lá em cima.